Sobre a Ciência e o Senso-Comum, Parte 2

Do post anterior:
"Ah! Então ciência e senso comum são a mesma coisa?"

A resposta acho que se encontra no primeiro parágrafo do mesmo post, um é o aprimoramento do outro. A ciência não é senso-comum, porém o senso comum possui elementos que a ciência também possui. São eles: modelos, hipóteses, evidências. Nós naturalmente agimos construindo modelos de tudo e levantando hipóteses e em vista da evidência experimental que surge da nossa convivência diária com o mundo confirmamos ou refutamos nossas teorias. E assim é a ciência.

Nesse ponto da minha divagação eu paro e me pergunto. Qual é o nosso problema então? Por que, apesar de sermos dotados de ferramentas de reformulação o senso comum aceita que que mulheres que sofreram abuso sexual sejam obrigadas a dar a luz e criar o filho de um desajustado? Por que o senso das pessoas comuns concorda com uma política pública que investe em segurança e armamento se é demonstrado através da experiência cotidiana que a fonte da violência é a desigualdade social e uma educação de má qualidade?
Não sei de onde vem esse contrasenso, pensar e não pensar. Sei que ele se reflete na ciência acadêmica também, mas aí é uma discussão que eu preciso ler mais para fazer.

A questão é: o método (entendido aqui como hipótese, modelagem, confrontação experimental) em sua essência permite e incentiva a mudança, mas tanto na ciência quanto no senso-comum há um temor imenso em quebrar o paradigma e uma facilidade enorme em classificar como "loucos" aqueles que o fazem.
Pobres seres humanos contraditórios: fundamentalmente científico, mas completamente reacionário. Pobre ciência contraditória! Enaltece Einsteins e Heisenbergs, mas não permite que pesquisadores brilhantes repitam a dose devido à política "publish or perish".


Imagem: O terapêuta, R. Magritte.