Sobre a Ciência e o Senso-Comum, Parte 1

Podemos dizer que o método científico é um aprimoramento do senso comum. Assim como utilizamos telescópios para ver mais longe e amplificadores para ouvir melhor, utilizamos a ciência para explicar mais e melhor as coisas (quais quer coisas?). Ela é um instrumento que aprimora a capacidade que todo ser-humano tem de observar, aprender e modificar sua realidade. Assim como um músico nasce em alguém que treina seu ouvido para música, o cientista nasce de alguém que treine sua mente para o argumento.

Infelizmente, devido ao interesse de uma minoria, o "indivíduo de senso-comum(1)" foi condicionado a entregar nas mãos dos "doutos" a tarefa de entender e interpretar o mundo ao seu redor eximindo-se da responsabilidade sobre suas escolhas e pior, atrofiando a capacidade de pensar.
As pessoas acreditam na ciência. Relembre a velha dúvida "margarina ou manteiga". Um belo dia sai uma pesquisa dizendo que margarina faz bem e a manteiga não. A venda de manteiga cai a venda de margarina sobe e todos ficamos satisfeito por ser tão fácil cuidar da saúde. Um tempo depois sai outra pesquisa:" Margaria responsável por entupimento de artérias ...." e a venda de margarina cai e a de manteiga sobe.
Qual a lição nisso? Primeiro que a ciência não tem muito a dizer a não ser modelos que hora funcionam e hora caem por terra em detrimento de uma teoria mais abrangentes, ou de novos dados. Segundo, se você não tem a capacidade de julgar o que deve comer e em quais quantidades, seja margarina ou manteiga ou maçãs, algo sairá errado. Uma alimentação balanceada é o segredo de uma vida saudável e minha bisavó já sabia disso antes de muitos desses PhDeuses nascerem. Por último, mas não menos importante, a ciência é financiada por agências que recebem dinheiro de governos que por sua vez recebe dinheiro de empresas que fabricam margarina. Ficou claro?

Então para que serve a ciência se ela sempre se modifica? Não existe nada sólido, verdadeiro, único? Não. Não existe, e para aqueles cientistas que bradam possuírem a verdade absoluta, só lhes restará um espaço na pratileira dos risíveis.

Ok. Mas faz-se ciência! O homem foi a Lua e o LHC vai funcionar (espero!) e no fim todos os blocos em planos enclinados parecer escorregar com uma aceleração facilmente determinável por uma teoria bastante conhecida. A questão é que "o que funciona é verdadeiro"(2). Podemos não ter a teoria final, mas uma vez que todas as intermediárias passam pelo crivo experimental, pelo menos elas funcionam na prática. Tentando clarear as coisas:

Exemplo 1:
Aristóteles falava sobre os quatro elementos fundamentais e que o movimento dos corpos era em direção ao retorno desses para sua origem. Existe aqui um quê existencialista que não vou entrar em detalhes, mas para Aristóteles, era assim que as coisas se manifestavam também no nível físico. Isso era facilmente comprovado por ele: a chuva cai do céu e vai pro chão e vai pro rio e vai pro mar, a natureza dela é a água. A fumaça, a parte associada ao éter, logo que liberada atravéz do fogo, segue seu caminho rumo ao ar(éter) (convenhamos, toda fumaça sobe pelo menos numa primeira análise), além disso, a cinza que era a parte da matéria, se aglomerava e se depositava no solo.
Sabemos que essa teoria do movimento de Aristóteles se confrontada com outras evidências experimentais será jogada por terra. Mas não podemos nos esquecer que ela explica a chuva, a combustão, a queda de pedras rumo ao chão, etc. Não podemos esquecer acima de tudo que ele foi o grande influenciador da mecânica clássica que surgiria tempos depois.

Exemplo 2:
Newton funciona na nossa prática, mas acelere os corpos a velocidades próximas a da luz e teoria dele funcionará tão mal quanto pior ela puder ser.

Exemplo 3:
... ou então pegue a matéria e olhe tão à fundo nela que ela não passará de ondas de probabilidade, então Newton também não funciona mais.

Para nós humildes seres-humanos é dificil conceber a idéia de que coisas que funcionam tão bem não são a verdade sobre a natureza daquele fenômeno, por isso Ruben Alvez nos brinda frizando em seu texto: O QUE FUNCIONA É VERDADEIRO.

E por isso também a ciência é tão transitória, pois quando não funciona então ela precisa ser reformulada. Para mim essa é a maior beleza da ciência. De todas as criações da humanidade como religião, juros, preconceito, política externa do Estado Unidos, ela parece ser a única com o poder interior de se modificar frente à novas perspectivas!

Voltanto. E o senso-comum? O senso-comum é verdadeiro a medida que ele funciona. Batatas não possuem ácido acetilsalicílico, mas quando você coloca sobre os olhos quando está com enxaqueca ela alivía a dor.
Ah! Então senso-comum é ciência!?
(cenas do próximo capítulo, hehehe)


(1) Senso-comum é uma palavra criada por pessoas que se julgam acima dele. ( R.A)
(2) Rubem Alvez, Filosofia da Ciência - Uma Introdução ao Jogo e suas Regras.
"Recuerdos" de Didática rsrsrs quem conhece sabe.

2 comentários:

  1. Podemos talvez ampliar a questão da verdade no campo da filosofia,se houvesse uma verdade última seguiríamos uma doutrina mas aí já não seria filosofia...

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  2. concordo. não seria nem filosofia nem ciência. falar de uma verdade última é negar a possibilidade de aceitar novas evidências, novas experiências e novos pensamentos.

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